Análise

20/07/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:09am

Um grupo de investigadores realizou um estudo onde foi analisado o papel que os meios de comunicação exercem na nossa percepção sobre os chimpanzés.

Estamos tão acostumados a ver os chimpanzés que na realidade a sua presença já não nos surpreende quando protagonizam um filme, ou se são estrelas de uma série televisiva, ou quando participam em anúncios, quando ilustram cartões de aniversário, ou mesmo quando são vistos como um cão. A verdade é que são parte da nossa realidade quotidiana.

O Jardim Zoológico de Chicago proporcionou os candidatos necessários a esta investigação que foi divulgada na revista científica “PLoS ONE”. A descoberta demonstrou que os media fomentam a criação de mal entendidos ou de ideias erradas sobre os primatas. Para chegarem a estas conclusões os investigadores recorreram à tecnologia. Assim retocaram e mostraram várias imagens em que se via o primata em diversos contextos e por vezes acompanhado por um humano.

Apesar de se tratar de uma espécie em extinção, os que viram a imagem do chimpanzé junto ao humano não se apercebem desta tendência assombrosa. No entanto, aqueles que viram a fotografia do primata sem o humano conseguem ter uma percepção diferente da situação real destes primatas. Este estudo também revelou que muitos humanos concebem o chimpanzé como um cão ou gato, quando na realidade ao envelhecer a sua força e a sua agressividade o convertem num animal potencialmente perigoso.

O cientista Steve Ross, fundador do Projeto ChimpCARE, uma ONG que visa o bem-estar destes animais, afirma que “a descoberta é particularmente importante dada a popularidade pública dos anúncios, dos filmes e dos programas de televisão onde atuam os chimpanzés.” Ele assegura que “este tipo de prática tem sido amplamente criticado pelos defensores dos animais”. Para além disso, o cientista recorda que a carreira “ativa” destes adoráveis animais convertidos em atores apenas dura um par de anos, porque crescem demasiado e lidar com eles torna-se uma tarefa difícil.

Este enfoque mediático e a sua influência sobre nós não se limitam a uma escala individual uma vez que se trata de um problema global que prejudica todos os esforços que são levados a cabo para conservar esta espécie. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), os chimpanzés selvagens correm um grave perigo de extinção. A UICN afirma que podem desaparecer dentro de um período que oscila os 10 e 50 anos. Ross afirma ainda que “os que viram as imagens dos chimpanzés em cenários humanos são levados a pensar que não se trata de uma espécie em perigo de extinção”. Lamentavelmente, ter um chimpanzé como animal de companhia parece esta na moda, mas o que muitos não sabem é que esta moda prejudica o animal uma vez que se contribui para a “normalização” da sua presença. Para além disso, suporta um risco para a sua conservação e segurança já que nem sempre é fácil lidar com os primatas. O Projeto ChimpCARE estima que 100% de chimpanzés vive em garagens, em pátios traseiros ou sótãos, habitats que evidentemente não são apropriados para o seu bem-estar.

Ross conclui que “o retrato frívolo e impreciso desta complexa espécie em perigo de extinção deveria preocupar qualquer um que estaria interessado pela segurança e bem-estar destes animais