Estudo

19/05/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Estudo publicado na Nature afirma que, apesar de grave, a extinção de animais no planeta é 2,5 vezes menor do que se imaginava. Resultado da pesquisa, no entanto, é questionado por outros especialistas

A perda do hábitat, a caça ilegal e as mudanças climáticas têm sido apontadas como causas do potencial sexto grande evento de extinção em massa da história. Cientistas e ambientalistas vêm alertando que o ritmo acelerado do desaparecimento de espécies de animais em todos os continentes coloca a Terra em uma grande crise de biodiversidade. Mas, e se a situação não estivesse tão ruim assim? É o que questiona um artigo publicado na edição de hoje da revista especializada Nature.

Sem negar que o planeta enfrenta uma situação anormal nas taxas de extinção, problema associado à intervenção humana, os pesquisadores afirmam, contudo, que os modelos usados até agora para medir as perdas biológicas estão incorretos. De acordo com eles, em média, o ritmo alegado de extinção deveria ser dividido por 2,5 para ser mais preciso. “Quero ressaltar que não negamos a existência de um fenômeno acelerado de extinção. O que enfatizamos e tentamos dizer é que os métodos de quantificá-lo superestimam essas taxas”, disse, em uma teleconferência à imprensa mundial, o ecólogo Stephen P. Hubbell, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles.

Hubbell e seus colegas Carsten Rahbek e Fangliang He, que também assinam o artigo, desenvolveram um novo modelo matemático, mostrando que, embora grave, a situação não está tão acelerada como o sugerido anteriormente. Eles explicam que, como é muito difícil estimar taxas de extinção, cientistas e conservacionistas costumam usar uma metodologia indireta, chamada relação espécie-área. Essa abordagem conta o número de espécies em um determinado local e estima o tamanho da população, considerando a área total. Com isso, eles calculam o quanto essa população encolhe, à medida que perde seu hábitat. A lógica é a de que, quanto maior a área, maior a quantidade de animais que poderia abrigar. Assim, com a diminuição territorial, cairia, também, o número de espécimes.

“Esses números são muito questionáveis. Temos que ser cuidadosos. A matemática nos provou que esses índices podem estar superestimados em mais de 160%”, alertou Hubbell, na entrevista coletiva. Ele criticou o que chama de “guesstimate”, expressão equivalente ao “achismo”, usado coloquialmente no Brasil. De acordo com o cientista, a relação espécie-área não reflete, necessariamente, a distribuição dos animais no espaço estudado. Para o ecólogo, estimativas mais precisas deveriam ser construídas a partir da análise das populações endêmicas, ou seja, aquelas que só existem em uma determinada região.

Censo animal
Os pesquisadores utilizaram dados de florestas tropicais da Ásia, da África e das Américas do Sul e Central que possuem mapas e informações detalhadas da biodiversidade. No total, a área analisada por eles abriga 4,5 milhões de árvores, pertencentes a 8,5 mil espécies, muitas delas, raras. Se essas árvores forem derrubadas em grande escala, algumas espécies animais seriam extintas, já que precisam delas para se locomover, se alimentar ou se camuflar.

Confrontando os censos animais dessas localidades com as estimativas realizadas pelo método de relação espécie-área, eles descobriram que as projeções de extinção feitas até agora estavam erradas. Por exemplo, há predições do início dos anos 1980 que diziam que mais da metade das espécies da Terra estariam perdidas em 2000. “E isso não aconteceu”, lembra Fangliang He. “Nós precisamos aumentar rapidamente a nossa compreensão sobre onde as espécies estão no nosso planeta. Precisamos de cidadãos para registrar sua biodiversidade local, pois não há número suficiente de cientistas para reunir essas informações. E necessitamos também de uma reflexão mais profunda sobre como podemos estimar a taxa de extinção de forma adequada. Só assim faremos melhores políticas de conservação. Se você não sabe o que tem, é difícil de conservar”, observa.

Os autores, porém, ressaltam que, se por um lado os números estão superestimados, por outro, a situação é realmente grave. “Os métodos atuais para estimar a extinção estão errados, mas a verdade é que estamos perdendo hábitats mais rápido do que qualquer outra época do tempo ao longo dos últimos 65 milhões de anos”, diz Hubbell. “A próxima extinção em massa pode estar logo ali. Houve cinco grandes extinções na história da Terra, e podemos estar passando pela sexta”, conclui. Ele lembra que, por causa da ação humana, apenas 20% das florestas continuam selvagens.

Discordâncias
A teoria de Hubbell não é bem aceita por alguns especialistas. Entre eles, Stuart Pimm, ecólogo conservacionista da Universidade de Duke. Em entrevista ao site da Nature, ele afirmou que o artigo publicado na revista especializada está errado. “Os autores cometeram um erro crasso ao dizer categoricamente que todas as taxas de extinção baseadas na relação espécie-área estão superestimadas, mesmo que alguns estudos feitos com essa metodologia tenham se mostrado bastante precisos”, analisou. Em 1995, Pimm escreveu um artigo prevendo a extinção de pássaros na América do Norte, vinculada ao desmatamento. Ele alegou, na época, que em média 4,5 espécies seriam perdidas De fato, quatro das que descreveu já não existem mais no nordeste do continente.

Em resposta às críticas, Stephen Hubbell disse que não está negando o fenômeno e quer apenas uma adequação numérica mais precisa. “Uma das coisas positivas da ciência é poder se autocorrigir. Então, quando você comete um erro, você tem a oportunidade de consertá-lo, assim como suas consequências. A ciência nada mais é do que a busca pela verdade. Estamos ainda nesse processo de buscar a verdade a respeito das taxas de extinção da